Mais um dia recomeça
Uma mistura da ironia de um Takeshi Kitano com o charme de um Robert Downey Jr. (o que resulta, inesperadamente, num Buster Keaton árabe): Elia Suleiman.
Que alegria ver a ressurreição do burlesco – a comédia mais simples – em belas imagens (seja pela beleza estética ou por seu significado no filme)!
Não contente com o já conquistado, este filme ainda pensa: mostra, com uma crueldade que só o humor é capaz, o quanto a constituição de estado judeu na Palestina desbaratina de vez uma cultura que já encontrava problemas para se manter viva no século XX – como se os árabes fossem indígenas e os judeus os homens brancos. (E, talvez, tudo o que veio depois, com seu escandalo e sua importancia, seja apenas o desespero do acuado). Com o mérito extra de abordar esta delicada situação pelo viés da realidade do ocorrido, e não pela justiça ou direito ou, menos ainda, ideologias em conflito – o que não significa neutralidade.
Humor que lamenta o que se perdeu e não vê retorno possível; faz a crônica de um presente ausente: reconstitui o sentido que teria o presente para aqueles morreram, física ou espiritualmente, lutando para que ele não se tornasse presente.
Anos Dez 