Morei com um cara de Curitiba, que achava fevereiro o melhor mês do ano porque tinha Oscar e carnaval. Ele curtia axé e sabia todos os B´sides de Ivete Sangalo e Claudia Leite. Como também sabia de todos os ganhadores de melhor filme desde o início do Oscar. Na noite do Oscar ele colocava terno e etc. E o melhor filme que já existiu, para o meu amigo, foi Titanic.
Mas ele nunca me falou sobre os melhores curtas de animação. E esse é espetacular. (tá concorrendo esse ano)
“Oi meu nome é Fiona Apple. Não, nada a ver com eles. Fiz sucesso no final dos anos 90, lembra? Eu lembro. Mas continuo fazendo discos, de vez em quando. Minha discografia é enxuta, precisa. Sou übercool, ainda, eu acho. Continuo tirando mais suspiros de meninas que o George Clooney, ou quase. De vez em quando entrevisto o Tarantino ou gravo clipes, como este, com amigos comediantes em ascensão. Ouve essa aí, acho uma boa canção, lembrança da querida Ju, beijo pra ela”.
Altamente recomendado pra quem não gosta de estória, e gosta de brincar de cabra-cega com 3 gatinhas francesas da década de 60. (Bons tempos do filme não-linear). (Alguém me explica, por favor).
Pegue os idiotas do Lars von Trier, subtraia o dogma, adicione nonsense godardiano, uma pitada de bad trip a lá Haneke e de “como criar seus filhos” de Içami Tiba e misture de maneira que ele seja indicado ao Oscar. Voilá!, você tem esse Kynodontas.
Tomar um cachote (daqueles que parecem que nunca irão acabar), de manhã cedo, com o café da manhã ainda na barriga. Essa foi a sensação que tive ao ler esse livro do David Foster Wallace. Descobri esse cara por conta de outro livro dele, “Infinite Jest”, que, na folheada virtual que eu fiz dele em *pdf, não tive coragem de ler. Optei iniciar por esse, pelo conto “Good old neon”, um dos títulos mais bonitos que já vi.
Este conto é muito bom. DFW (para os fellows) brinca com a narrativa. Muda as vozes quando acha necessário, cria algumas palavras pelo texto, notas de rodapé para dar mais informações, enfim, a ficção parece tomar conta de tudo no texto dele. É uma liberdade trabalhada, necessária, não gratuita e para gozar (só um pouco, que é preciso).
DFW cometeu suicídio em 2008. E, pelo que sei até hoje, não há nenhuma tradução dos seus livros para português. O lance é se virar com o inglês intermediário nível 2 e agradecer a Amazon.
Uma lição de como fazer um documentário simples e bom. Saia de casa para sua rua, entreviste as pessoas que lhe vendem pão, carne, cerveja, jornal, se apaixone pelo casal de velhinhos do armarinho da esquina, chame todo mundo pra um churrasco (ou um apresentação de um mágico), filmando sem parar. E use a língua sem ser ator pôrno. Basta. (Uma obrigação visitar a rua quando em Paris).
Um (velho) problema de se elogiar alguma coisa demais é superestimá-la. Aliás, muito elogio, o santo deveria sempre desconfiar.
Com discos de música pop (no sentido mais amplo possível), é só isso que acontece. Superestima-se. Palavras vazias pra criar a sensação de que alguma coisa vai mudar. Nada muda, é só um disco. Se for muito bom vai fazer parte da sua vida, mas uma parte pequena, embora importante. Se for ruim, que importa – 30 outros garotos talentosos farão seu dia. Nada de mais. Nem mesmo as revoluções mudam alguma coisa, quiça um disco.
Os fãs tem um papel nisso. Ignora-se artistas muitas vezes por causa dos fãs deles. Ficar idiota – afinal, há justificativas, essa vida é uma miséria, e esses discos, de bandas que talvez nunca veremos, são um evento na vida.
Ouço os subúrbios do Arcade Fire sem grandes preconceitos, sem grandes esperanças, sem apostas, sem exigências bestas. É só um disco. Um disco muito bom. Por n razões. Não vem ao caso aqui dize-las; vale a pena ouvi-las. Now you’re ready to start.
(Mentira: uma delas é: ainda fazem só um disco de rock).
Muitas belas cenas (em especial: a entrada, a festa de pijamas, o machado). Não é só a Argentina do filme, é como se o Copolla, o melhor diretor que também planta uvas, fosse latinoamericano.
A televisão, às vezes, produz obras-primas. É o mínimo que se poderia esperar – o mínimo que ela nos deve.
Sinta-se abençoado, sortudo, vendo esse episódio de mais uma série mezzo reality-show mezzo programa de viagens chamado Nalu pelo Mundo, onde um surfista playboy gente boa dá uma volta em torno do planeta com suas belas mulher e filha atrás de ondas e estórias (mais um desses melhores empregos da história).
No mesmo programa você vê: um cara surfando uma onda bizarra, costurando uma cabeça, conhece uma ilha dominada por crianças, uma banda de indigenas tocando na guitarra músicas iradas que é simplesmente tudo aquilo que o Vampire Weekend queria ser, novas drogas inimagináveis, um paraiso perdido em Papua Nova Guiné.
O nosso nobre senhor vai na calma, chama o diretor da prisão e fala que quer tocar para os brother de lá. Aproveita e grava um disco e mostra pra gente, pessoas do bem (sem dúvida), do que o blues é feito. Discão.
A melhor forma de você ser hippie é tocar violão e ganhar algum dinheiro (talvez). O rapaz Young deixou os camaradas Crosby, Stills e Nash e se enveredou a tocar por aí. Sei lá, às vezes dá certo, como pode ver aí no vídeo.
O cara tem muito disco, e não para. Lançou um agora, chamado “Le Noise” (que ainda não escutei, opinião em breve), e dessa vez sem os “Crazy Horse” para acompanhar. The dammage is done.
O maior disco de jazz (o maior, não o melhor). Não entra nessa discussão de melhor porque está fora do parâmetro das outras obras. É uma oração, uma homenagem, algo que vai acontecendo, aos poucos e ao supetão. Pá! É impossível você controlar o que vai acontecer, por mais que você escute sem parar e tente marcar. Aqui, o tempo é outro. Tente marcar quando entra o sax entre “Acknowledgement” e “Resolution” (a passagem que está no vídeo…). Não vai rolar.
Só tocaram uma vez ao vivo. Depois, Coltrane largou pra lá. É algo raro. Não dá para ficar repetindo.
Misturar romance epistolar com ensaio e colocar um bocado de história da Argentina (ditadura) é coisa que só Ricardo Piglia pode fazer por você. Li há algum tempo. Preciso ler de novo.
Combina a secura da vida sem precisão com as cores do kitsch tornado belo. Quem sabe um bom filme para iniciação em Fassbinder. A Alemanha com jeito de Brasil, como ele sempre filma.
Alguns dizem que inventaram algo pior do que prêmio literário. Outros dizem que é muito bacana, super divertido. Alguns, até, dedicam boa parte de seu tempo a esse torneio.
Explicando o título: na saída de um estabelecimento qualquer, por exemplo (o que é bem comum) de um parque de diversões, instala-se uma lojinha, onde a euforia se transforma em lucro. [SPOILER] O filme é um ajuste de contas, sem solução.
Coloca a preocupação que mais besteiras induz: “o grafiti é arte?” pelos próprios praticantes dele. E evita as besteiras. Resumo das conclusões: o grafiti é em primeiro lugar uma prática, quase sem sentido. Essa prática pode ganhar usos diversos, dos quais o nome Banski representa o mais contundente: um protesto poético. Entretanto, a arte-mercado, que, subvertendo os deboches do surrealismo e da Pop Art, tem o poder de fazer qualquer objeto funcionar como se fosse um objeto de grande valor estético, faz do grafiti sua linguagem privilegiada e aplasta toda possibilidade de sentido e de usos sobre o financeiro, sobre a utilidade de decoração.